Nos últimos anos, o consumo de serviços no Brasil tem ganhado peso no orçamento das famílias, com destaque para saúde, bem-estar e estética. Ao mesmo tempo, o crédito ao consumidor, seja na forma tradicional de financiamento ou em alternativas como o consórcio, tornou-se um facilitador para capturar o desejo reprimido por procedimentos eletivos.

Esse contexto combina renda disponível pressionada, inflação de serviços e a busca pelo parcelamento como estratégia de acesso.

Em paralelo, o consumo de maior valor agregado vem sendo viabilizado por modelos e alternativas de pagamento de longo prazo. No entanto, o cenário econômico das famílias brasileiras vive momentos de instabilidade.

Saúde suplementar como intermediária de pagamento

Quando falamos de financiamento em saúde, é importante reconhecer que existe há muito tempo um agente que cumpre essa função no Brasil: o plano de saúde.

A saúde suplementar foi desenhada para ampliar o acesso assistencial. Mas, na prática, muitas operadoras funcionam mais como intermediárias de pagamento, limitando-se à rede credenciada, regras de cobertura, coparticipações e ao conhecido Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar. Esta lista define os procedimentos que todos os planos regulamentados precisam obrigatoriamente cobrir.

Hoje, pouco mais de 25 por cento da população brasileira tem acesso a planos de saúde privados. Desse total, cerca de 70 por cento são planos empresariais. Em outras palavras, são as empresas empregadoras que financiam grande parte do sistema suplementar.

O baixo acesso à saúde suplementar empurra parte significativa da demanda para o particular, especialmente em procedimentos eletivos, estéticos e odontológicos, que não estão no rol obrigatório da ANS. Nesse contexto, cresce a procura por soluções financeiras como cartão, financiamento e consórcio, além de produtos paralelos como cartões de desconto, planos de benefícios e serviços de saúde segmentados, voltados para áreas como saúde da mulher, medicina esportiva e qualidade de vida.

A estética e a cirurgia plástica se consolidaram como categorias aspiracionais e de recorrência, ligadas à manutenção da imagem e da autoestima. Redes sociais, turismo médico e clínicas especializadas impulsionaram essa cultura. Em odontologia, protocolos estéticos e reabilitadores seguem a mesma lógica: alto desejo, tickets elevados e necessidade de novos formatos de pagamento para ampliar o acesso.

A expansão da estética, cirurgia plástica e bem-estar

A estética e a cirurgia plástica se consolidaram como categorias aspiracionais e de recorrência, ligadas à manutenção da imagem e da autoestima. Redes sociais, turismo médico e clínicas especializadas impulsionaram essa cultura. Em odontologia, protocolos estéticos e reabilitadores seguem a mesma lógica: alto desejo, tickets elevados e necessidade de novos formatos de pagamento para ampliar o acesso.

A saúde estética vai acabar?

O que são financiamentos e consórcios para saúde e bem-estar

Antes de comparar, é preciso entender cada modalidade:

• Financiamento é um crédito com juros, prazo definido e liberação imediata. É indicado para situações de urgência e quando há previsibilidade de pagamento.
• Consórcio é uma compra compartilhada sem juros, mas com cobrança de taxa de administração. A contemplação acontece por sorteio ou lance. É indicado para quem pode planejar e deseja reduzir o custo financeiro.

Na saúde, a escolha depende de fatores como urgência clínica ou estética, valor do procedimento, capacidade de pagamento, tolerância a prazos e custo total.

O aumento da oferta de produtos de financiamento e consórcio por bancos e empresas especializadas tornou procedimentos de alto valor agregado mais acessíveis. Isso ampliou a oferta de crédito e impactou positivamente clínicas e serviços de saúde.

Exemplos de instituições financeiras e players especializados

• Bradesco, com o CDC Cirurgia Plástica, oferece financiamento para procedimentos estéticos e reparadores.
• Banco do Brasil, com o BB Crédito Realiza Saúde, cobre tratamentos variados como cirurgias, exames e reprodução humana.
• Banco BV, com o Financiamento Saúde BV, permite que o paciente parcele enquanto a clínica recebe o valor à vista, o que melhora o fluxo de caixa do prestador.
• Creditas, que divulga uma linha de empréstimo para cirurgia plástica, com condições que variam conforme garantias.
• Soluni, que estrutura financiamento para cirurgias plásticas em até 36 vezes, voltado ao nicho estético.

O futuro do financiamento da saúde

As clínicas de procedimentos e cirurgias já conseguem fechar mais contratos com pacientes que acessam crédito, em alguns casos parcelando em até 72 vezes. Esse movimento aumenta a conversão de vendas e garante liquidez para os prestadores. Ao mesmo tempo, surgem redes de lojas e fintechs dedicadas exclusivamente ao crédito para saúde.

Por outro lado, o crescimento acelerado da estética também gera desafios. A expansão de cirurgias com finalidade estética expõe o mercado ao aumento de erros médicos e complicações, reforçando a necessidade de regulação e qualificação profissional.

De acordo com o Presidente do CFM, a Estética se tornou um problema de “saúde pública”:

Expectativas e tendências

Produtos de crédito, seja para bens de consumo ou para serviços de alto valor agregado, estão sempre atrelados ao cenário macroeconômico. Taxa de juros, consumo das famílias e inadimplência afetam diretamente a demanda por procedimentos financiados.

Em momentos de juros altos, o crédito encarece e limita o acesso. Mesmo assim, o mercado segue em expansão, especialmente com novos nichos surgindo:

• Clínicas e spas medicinais voltados ao bem-estar integrativo.
• Medicamentos para emagrecimento e o consequente crescimento de clínicas especializadas.

O boom das clínicas de emagrecimento no Brasil

Esporte e qualidade de vida, com o boom das corridas de rua, que cresceram 29% em 2024, além do fortalecimento de academias, personal trainers e serviços digitais de aconselhamento.

A oportunidade é clara. Mais qualidade de vida e autoestima são fatores determinantes para os indivíduos e também impulsionam setores inteiros da saúde e do bem-estar. Para profissionais, clínicas, hospitais e empresas do setor, compreender como funcionam os produtos de crédito e consórcio é fundamental para ampliar o acesso, aumentar vendas e oferecer alternativas seguras e transparentes aos pacientes.