Por Kehone Miranda e Daniel Moura – Especialista em Gestão de Saúde e Administração Hospitalar.
A história que vou compartilhar hoje ilustra um cenário comum em muitos hospitais ao redor do mundo e certamente interessa a todos nós como pacientes, familiares, gestores de plano de saúde, doadores filantrópicos ou (principalmente) investidores.
Quem nunca teve que levar uma pessoa ao hospital com urgência? Isso mesmo: nosso amigo levou a filha – uma situação é que estressante por si só. E, durante o tempo de observação dela, enquanto aguardava resultados de exame de sangue de laboratório, ele, curioso e preocupado, decidiu verificar como é o funcionamento das tecnologias ali presentes. O que começou como a leitura de informações de fabricantes pelo celular logo se mostrou um problema comum que afeta não apenas os custos operacionais das instituições de saúde, mas também a qualidade do atendimento.
Nosso amigo descobriu que não tinha só um, mas dois oxímetros de pulso de marcas diferentes no mesmo leito. Isso chamou a atenção, porque eram ambas tecnologias importadas e caras. Então, tinha de existir uma explicação racional, já que não é aceitável que o dinheiro fora usado para duplicar recursos quando o paciente só usa um deles. Curioso, foi até o oxímetro que não estava em aplicação em sua filha e constatou que funcionava perfeitamente. Seriam mesmo ambos os equipamentos equivalentes e o administrador do hospital teria esbanjado os recursos financeiros? Ora, seria preciso comparar a ficha técnica dos produtos para saber. Assim, ao visitar o site do fabricante, ele descobriu que o oxímetro ociosos também tinha a capacidade de medir a hemoglobina sem a necessidade de coletar sangue. “Mas então”, pensou: “porque coletaram o sangue da minha filha se esta tecnologia já daria a estimativa em poucos segundos se ela precisará de transfusão ou não? Por que ainda estamos aqui todo esse tempo aguardando o diagnóstico?”
Ele fez as perguntas para a profissional de enfermagem, e ela para outra, e assim foi até constatarem que, infelizmente, para surpresa de todos, a equipe toda não estava ciente da funcionalidade de medir hemoglobina daquele oxímetro até então decorativo. A conclusão: o hospital não só não usava o caro oxímetro que ornamentava o leito, como demandava em 100% das vezes inconvenientes exames de sangue em laboratórios terceirizados, com risco de perfurocortante e contaminantes para os pacientes e profissionais de saúde. E, como se já não fossem problemas demais, para desespero dos investidores e filantropos, empresas de planos de saúde e de todos nós usuários do serviço, houve gastos desnecessário do limitado dinheiro disponível na aquisição de outro oxímetro para o mesmo leito.
O dinheiro se esvai continuamente também com os maiores custos com manutenção, faltando para o treinamento efetivo do recurso humano. E, com treinamento precário, não só se subutilizam as tecnologias ali presentes, como se dá margens para erros humanos que fatalmente põem as vidas dos pacientes em risco.
Esse caso ilustra a lacuna mais comum da visão administrativa em hospitais que não apenas consome tempo valioso, mas também pode levar a erros e confusões: como estão de verdade a integração das tecnologias com os processos de atendimento? Pense que, se um dos equipamentos duplicados indicar um resultado divergente do outro, como saber qual está correto?
Perceba que, além dos desafios operacionais, a redundância de equipamentos médicos representa um gasto desnecessário dos recursos destinados ao hospital.. Cada equipamento duplicado não utilizado efetivamente representa um desperdício de recursos preciosos que poderiam ser direcionados para melhorias reais na qualidade do atendimento.
A dica aqui para quem injeta recursos financeiros em empresas de saúde é antes pedir uma auditoria de qualidade consistente e independente onde o requisito primordial é a adoção diária do “Aclin-Check” para resolver esse tipo de cenário. O “Aclin-Check” é dispositivo que simula o paciente já interligado a todas as tecnologias do ambiente hospitalar, permitindo ensaios de todas as tecnologias médicas ali no leito ao mesmo tempo. Aplicá-lo no checkin e checkout é obrigação para manter o leito operando com o máximo de eficiência.
É fácil notar que, com isso, as equipes de profissionais, pacientes e familiares sabem que podem confiar nos resultados apresentados de uma só tecnologia. Logo, a tecnologia excedente fica disponível para abertura de outro leito, ou seja, para atender a outro paciente de outra família.
E se está atendendo outro paciente, não só se promove mais saúde, como o investimento realizado retorna com o dobro da lucratividade.
Por fim, percebe-se que a gestão de riscos e com Qualidade em hospitais inclui realizar avaliações regulares de suas necessidades de equipamento médico e eliminar qualquer redundância não justificada. As equipes devem receber treinamento adequado para garantir que saibam como operar efetivamente os equipamentos disponíveis, incluindo seus recursos menos conhecidos. Não podemos esquecer de PADRONIZAR equipamentos e processos sempre que possível, pois isso pode reduzir a complexidade da rotina e melhorar a eficiência.
Sou uma grande incentivadora do uso de tecnologias em saúde. A chave está em encontrar um equilíbrio entre o básico e a tecnologia, adaptando-se às necessidades específicas de cada serviço.. Uma cultura de gestão forte é fundamental para garantir que os recursos, sendo eles básicos ou extremamente tecnológicos, sejam utilizados da melhor maneira possível em benefício dos pacientes e da qualidade dos serviços de saúde.
Conclusão: A história do nosso amigo no hospital é um lembrete importante para administradores, investidores e doadores de recursos financeiros e tecnológicos. A gestão inovadora e eficaz desses recursos não apenas reduz custos operacionais, mas também melhora a qualidade do atendimento, simplifica o treinamento da equipe e garante que os recursos disponíveis sejam usados.. Em última análise, INVISTA EM GESTÃO, pois isso beneficia não apenas os hospitais, não apenas o sistema, mas também os pacientes que dependem desses serviços.
Daniel Moura, co-autor deste artigo, é Engenheiro Clínico e CEO da ACLIN Inovação em Gestão de Saúde. Saiba mais em: https://aclin.com.br/