A saúde estética vai acabar?

  • Post publicado:6 de junho de 2025

O Brasil movimenta aproximadamente 48 bilhões de reais por ano em procedimentos de beleza. Segundo matéria da Revista Veja de 16 de janeiro de 2025, o número de harmonizações faciais disparou e a quantidade de profissionais no mercado dobrou em apenas um ano. Esse boom atraiu fisioterapeutas, farmacêuticos, enfermeiros e biomédicos, que migraram da assistência tradicional para o universo das agulhas finas e dos preenchedores rápidos.

No entanto, a maré de consumo revela evidências de mudança de direção. O setor global de wellness já movimenta 5,6 trilhões de dólares e cresce 7,3 por cento ao ano, ritmo bem acima do PIB mundial. A nova geração apresenta perfis de consumo diferentes: além de reduzir o consumo de bebidas alcoólicas, não faz da aparência o foco principal. O interesse agora recai sobre qualidade de vida, meditação, saúde integral e consumo com propósito.

A tendência de redesign das marcas mostra a preocupação em dialogar com esse público, buscando novos serviços, linguagens de comunicação e portfólios.

Saturação do mercado

Um mercado de 48 bilhões de reais naturalmente chama a atenção de profissionais de saúde.

O Brasil está entre os cinco maiores mercados de estética do mundo e é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas. Como em qualquer setor, a lei da oferta e da demanda se aplica: o excesso de profissionais e clínicas transforma a toxina botulínica em produto de prateleira, onde o diferencial é o preço, não a técnica. Simultaneamente, cresce o número de erros e complicações em procedimentos estéticos.

Fonte: G1 Goiás

A virada de chave do consumidor

A mudança de hábitos da geração Z já aparece nas estatísticas. Apenas 36 por cento dos jovens brasileiros consomem álcool mais de uma vez por mês; em vez de noites regadas a drinks, investem tempo e dinheiro em meditação, esportes e saúde mental, segundo o portal Mercado & Consumo. O prazer imediato dá lugar a rotinas que preservam o corpo e mente no longo prazo.

O relatório Future Consumer 2026, da WGSN, aponta para “o fim da romantização do consumo”. Comprar coisas deixa de ser sinônimo de realização pessoal; o desejo migra para experiências transformadoras, como viagens de autoconhecimento, retiros de bem-estar e programas de desenvolvimento físico e emocional.

Essa busca por qualidade de vida impulsiona wearables, dietas personalizadas e atenção à saúde emocional. O estudo Global Health & Wellness 2025, da NIQ, indica que monitoramento fisiológico contínuo, nutrição sob medida e estratégias para reduzir ansiedade e melhorar o sono compõem o novo tripé de decisão de compra. O consumidor, portanto, parece menos disposto a pagar apenas por resultados estéticos rápidos; procura soluções que integrem saúde física, mental e social no mesmo pacote de valor. O mercado de luxo segue a mesma direção, priorizando experiências em vez de ostentação de marcas.

O mercado de luxo, trazendo apenas como um paralelo, também vem seguindo a mesma tendência em relação as experiências.

Por que a estética isolada perde valor

A busca pelo rosto perfeito saturou. Procedimentos como toxina botulínica e peelings se popularizaram a ponto de o diferencial entre clínicas ser apenas o preço. Cursos rápidos formaram milhares de novos especialistas e o serviço, antes exclusivo, tornou-se produto de prateleira com margens cada vez menores.

Enquanto isso, o consumidor direciona seus recursos para saúde integral. Pesquisas da WGSN mostram que as pessoas trocam objetos por experiências que melhoram corpo e mente, e relatórios da NIQ ressaltam sono de qualidade, nutrição personalizada e uso de wearables como prioridades de gasto. A beleza continua desejada, mas agora como consequência de hábitos saudáveis, não como fim em si mesma.

Para permanecer relevante, a estética precisa se aliar ao bem-estar. Clínicas que combinam preenchedores com massagens, acupuntura, programas de atividade física, consultas de nutrição e sessões de mindfulness entregam valor durável, aumentam o ticket médio, fidelizam o paciente e o seu LTV (Lifetime Value) na clínica. A beleza permanece, mas integrada a um pacote que promove vitalidade e longevidade.

Você profissional de saúde pode pensar em desenvolver parcerias estrategias, conforme exemplos abaixo:

Oportuniudades de parcerias entre profissionais e clínicas de estética com outros serviços relacionados à beleza e bem-estar

Além dessas parcerias, movimentos ligados a atividade física, como corridas de rua, beach tennis e vôlei, estão em expansão e podem integrar programas de saúde multidisciplinar. Um paciente que transforma rosto ou sorriso pode aderir a treinos e alimentação específicos, alcançando uma versão mais completa de si mesmo.

E agora?

O ciclo que alimentou o boom da estética chegou ao ponto de inflexão. O mercado continua grande, mas a lógica de crescimento mudou: o cliente mede valor pelo que sente no corpo e na mente, não apenas pelo reflexo no espelho.

Clínicas focadas apenas em correções pontuais tendem a competir por preço e enfrentar margens menores. Já quem amplia o cuidado para incluir bem-estar, preservação, sono reparador, redução de ansiedade e alimentação de qualidade pode oferecer um pacote de benefícios que resiste ao tempo e fortalece os laços de confiança entre serviço de saúde e paciente.

Fonte: Forbes Brasil

A pergunta é estratégica: sua marca quer continuar presa ao antes e depois de uma fotografia ou participar da longevidade e da vitalidade dos pacientes? A resposta exige rever portfólio, treinar equipes multidisciplinares, adotar métricas de saúde integral e comunicar resultados de forma transparente. Quem fizer essa transição sairá da arena das commodities de curto prazo e ingressará em um espaço onde valor, fidelidade e relevância caminham juntos.

O momento para essa virada é agora, antes que a maré definitiva do bem-estar transforme a estética isolada em mais um capítulo do passado.