Por: Luiz Henrique Soares
Quais são as reflexões que ficam em nossa memória após um conturbado 2023 para a saúde brasileira?
Iniciamos o ano em um mix de sentimentos de esperança e insegurança. O motivos estão relacionados ao cenário conflituoso dos novos rumos políticos e econômicos decididos para o pais em 2022.
No mundo, o legado era muito claro: o fim de uma pandemia, vulnerabilidade econômica e conflitos políticos e bélicos.
No cenário da saúde, as operadoras registraram prejuízos bilionários no exercício de 2022. Para piorar, o primeiro trimestre de 2023 já mensurava um resultado negativo e na casa do bilhão, com expectativas reais de crescimento deste déficit até o final do ano.
Dos diversos problemas que as operadoras de saúde vem enfrentando nos últimos anos, como a inflação, aumento da sinistralidade e os aumentos custos hospitalares, eis que dois recorrentes chegam aos noticiários: o aumento nas fraudes e dos desperdícios.
Implementar as mudanças necessárias nos modelos assistenciais e de remuneração se tornaram um desafio para o setor. Alguns agentes de saúde enxergam no mercado a ausência de iniciativas individuais capazes de iniciar um revolução (seja pelas operadoras ou por meio dos prestadores, local ou nacional), enquanto outros acreditam em uma mudança vinda de cima pra baixo, com o poder público e órgão regular (ANS) definindo regras e práticas.
E para os prestadores de serviços (pequenos, médios e grandes), quais são os principais desafios?
Primeiro, precisamos lembrar o quanto a concorrência começou a fazer parte da rotina dos serviços de saúde nos últimos anos. O tão cobiçado “paciente/cliente” escolhe cada vez mais quem será o responsável pelo seu tratamento, seja no acesso a saúde privada (por meio de um plano de saúde) ou por meio da remuneração dos atendimentos do próprio bolso (particular).
Considerando que apenas 25% da população tem acesso a uma plano de saúde privado (segundo dados da ANS), o cenário continua caótico quando o restante das pessoas precisam de atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), modelo que não consegue absorver a demanda do restante da população, criando assim um gap cada vez maior no acesso a saúde por grande parte dos brasileiros.
Em segundo lugar, vivemos o sucateamento de especialidades e modalidades de atendimento por parte das fontes pagadores. Em quem podemos colocar a culpa?
- O expressivo aumento dos custos hospitalares, que afetam a relação entre prestadores e operadoras?
- O constante surgimento de novos prestadores, que na maioria dos casos estão dispostos a acatarem baixos valores de remuneração como estratégia de captação de clientes durante o período de maturação do negócio?
- Dos péssimos incentivos do setor em relação ao consumo de exames e procedimentos desnecessários?
A resposta para essa pergunta permanece sem uma resposta definitiva e clara!
O que podemos esperar para 2024
Com desafios e problemas amplamente conhecidos por todo o setor de saúde, quais são as expectativas dos prestadores de serviços para 2024?
A telemedicina como ferramenta de acesso
A telemedicina vem crescendo no Brasil de forma exponencial. O seu potencial como ferramenta de acesso a saúde, principalmente em regiões remotas e sem fácil acesso a serviços especializados, é gigante e faz parte do portfólio de soluções capazes de melhorar um pouco o problema de acesso a saúde que vivemos em um país com cobertura de 25% nos planos de saúde privados.
Dentro da telemedicina, uma nova modalidade em teste é a oferta do serviço dentro da estrutura das clínicas.
Seguindo corretamente as legislações vigentes em relação a esse tipo de serviço (vide regras de conselhos profissionais), não há dúvidas do potencial de ampliação do acesso a saúde por meio de todos os formatos possíveis na telemedicina.
Alto nível de especialização técnica
Há tempos estamos presenciando a alta especialização também na saúde, inclusive dentro das especialidades.
O principal fator de diferenciação de um serviço de saúde sempre será pautado na entrega técnica em consultas, exames diagnósticos, tratamentos e tecnologia aplicada a especialidade.
O tão sonhado “high ticket” que muitos profissionais esperam não virá apenas de estratégias arrojadas e caras de comunicação e marketing, mas sim da assistência entregue paciente.
Gestão dos custos
Um assunto antigo e que permanece assombrando gestores do mercado de saúde são os custos médico-hospitalares.
Quem sabe o seu custo? Quantos serviços hoje conseguem mensurar seus custos de uma maneira controlada e efetiva?
Aprimorar a experiência do paciente
A experiência do paciente é o grande hype do momento! Conhecer a jornada do paciente ainda é um desafio para muitos serviços de saúde!
Proporcionar uma experiência diferenciada para o paciente é muito mais do que implementar uma pesquisa de satisfação no atendimento. A cultura da organização, de sua diretoria e sócios é fundamental neste processo.
Neste cenário, temos dois protagonistas: o escritórios de experiência do paciente e o recursos humanos.
Por qual motivo? Sem processos e pessoas alinhadas com a cultura da empresa, nossa engrenagem não vai funcionar adequadamente.
Relacionamento mais próximo com as fontes pagadoras
Em 2023, a saúde suplementar bateu a marca de quase 51 milhões de usuários. Nacionalmente, a taxa de cobertura dos planos de saúde é de 25%.
Grande parte dos prestadores (entre laboratórios, serviços de imagem e hospitais) tem pelo menos metade do seu faturamento oriundo dos atendimentos aos usuários das operadoras. Não há dúvidas neste cenário da importância da saúde suplementar aos prestadores como fonte pagadora.
Sabemos bem que as operadoras de saúde encontram-se fechadas para novos credenciamentos em serviços e especialidades com alta oferta local de prestadores já credenciados. Aqueles prestadores que buscam se credenciar com elas, o alto nível de qualificação e o atendimento a demandas específicas pode ser um fator decisivo!
Para quem pretende abrir um novo serviços de saúde, vale a pena estudar a demanda das operadoras em relação ao serviço que será prestado!
Divulgar mais os serviços realizados
É fato que muitos prestadores tem dificuldades em comunicar para seus pacientes todos os seus procedimentos realizados, seja em novas empresas ou para aquelas que possuem um rico e extenso banco de dados de meses, ou até anos.
A ferramenta capaz de resolver este problema é a comunicação. Comunicar com o cliente durante o seu cadastro na recepção, aproveitar oportunidades de contato (aniversário do paciente ou dia da profissão), e-mail marketing e outros ações.
E quem é o principal vendedor de uma clínica? Será sempre o profissional de saúde!
Todos são responsáveis pelo sucesso do tratamento do paciente, porém é o profissional o responsável por conquistar a confiança do paciente por meio da sua experiência, orientações, diagnóstico e tratamento.
Dados e números
Qualquer decisão de uma empresa precisa ser tomada com base em seus números. Sejam eles internos, ou mesmo informações externos a empresa.
- Quantos paciente são atendidos por dia?
- Quem são as operadoras locais e a quantidade de vidas de cada uma delas na sua região?
- Quantos pacientes são atendidos por ano (convênio e particular)?
- Qual a média mês de faturamento?
- Quais são os procedimentos com maior margem de lucro?
- Qual o perfil de paciente que gera maior retorno financeiro?
- Qual o perfil do paciente que precisa estar alinhado as campanhas de marketing na internet?
Como podemos atravessar uma avenida muito movimentada por fora da faixa de pedestre e com os ouvidos de olhos tampados?
No livro “Organizações exponenciais”, Salim Ismail nos mostra (em 2014) que um diferencial competitivo de uma empresa deixou de viver durante mais de uma décadas para apenas alguns anos. Desde o lançamento deste livro, estamos acompanhamento que o período de vida de alguns produtos/serviços se esgotaram em meses..
Desde a pandemia, quantos redes sociais surgiram e, em poucas semanas, perderam sua força na mesma velocidade?
Estudar o mercado, melhorar o relacionamento com clientes e stakeholders, entender os números da empresa e investir em inovação devem fazer parte da rotina do gestor de um serviços de saúde em 2024!
Como você vai começar a aplicar tudo isso na sua operação?