Por: Luiz Henrique Soares

Por onde anda o nosso foco?
Estamos realmente focados em resolver aquilo que nos foi confiado ou estamos tentando reinventar rodas que já estão girando? Será que usamos como desculpa a existência de atalhos ou cedemos à pressão desenfreada por autodesenvolvimento 24 horas por dia?
Chegamos ao fim de 2024. Vivemos uma realidade com recursos disponíveis que são incomparavelmente maiores do que aqueles que eu tinha lá em 2010, quando ainda cursava Administração de Empresas. Naquela época, lembro bem da correria para terminar trabalhos e outras atividades na sala de computadores da faculdade, antes da primeira aula começar.
Hoje, contamos com ferramentas como o Gemini e o ChatGPT, que nos abrem um universo infinito: informações, comparações, estudos, conclusões e até conteúdos prontos. Essas ferramentas de Inteligência Artificial vão muito além do básico. Elas têm a incrível capacidade de realizar cálculos complexos, escrever livros, criar logomarcas, desenvolver fluxogramas e executar tarefas que economizam não apenas nosso tempo, mas também nosso esforço mental e criativo.
Lembro também do longínquo ano de 2003, quando comecei a me apaixonar pelo rock, que se tornou meu estilo musical favorito até hoje. Minha jornada musical passou por bandas brasileiras, americanas, inglesas e de tantos outros lugares do planeta. Naquela época, meu acesso era limitado à saudosa MTV Brasil, rádios locais, CDs (quando conseguíamos encontrá-los) e downloads que dependiam de uma internet ainda inacessível para a maioria dos lares brasileiros. Em 2024, tenho literalmente todas as músicas do mundo na palma da mão, em tempo real, graças aos aplicativos de música.
Os recursos em nossas mãos são muitos!

Trazendo todo esse cenário para a realidade do universo corporativo e gerencial, também vivemos uma era de abundância de recursos. Temos ferramentas tecnológicas que nos permitem gerenciar nossas empresas com mais segurança, confiança e agilidade.
Mas, apesar de todos os avanços, um fator continua sendo a verdadeira “cereja do bolo”: as pessoas envolvidas nas organizações.
O grande diferencial competitivo de qualquer empresa sempre foram as pessoas. São elas que conduzem processos, lideram equipes, utilizam as ferramentas da melhor maneira possível e, acima de tudo, constroem relacionamentos com os clientes. E esses clientes, cada vez mais exigentes e bem informados, têm expectativas altas sobre os produtos e serviços que consomem.
Durante o ano de 2024, tomei conhecimento de que o lendário produtor musical Rick Rubin lançou um livro chamado O Ato Criativo: Uma Forma de Ser.
Rick Rubin é um produtor musical conhecido mundialmente. Ele trabalhou com grandes nomes da música, como Red Hot Chili Peppers, Slayer, Run-D.M.C., Johnny Cash, Adele e dezenas de outros ícones globais da arte musical.

Em resumo, o livro de Rick Rubin é uma obra poderosa, capaz de expandir nossas mentes. Rubin nos apresenta reflexões filosóficas que levam o leitor a se enxergar como um criador, destacando que nossas maiores influências vêm das coisas e momentos simples e singulares da vida. Engana-se quem acredita que não é um criador.
A inspiração, segundo Rubin, pode surgir de diferentes fontes: das artes (música, pintura, histórias de artistas históricos), da natureza ou até de nós mesmos, com base em nossa intuição. Por meio de relatos de sua própria jornada criativa, Rubin encoraja os leitores a explorarem seu interior, a encontrarem inspiração no ambiente ao redor e a utilizarem suas paixões para criar. Suas reflexões são enriquecidas por insights vindos de áreas como Filosofia, Psicologia e Espiritualidade.
Outro autor e artista que nos ensina muito sobre a busca pela inspiração e criatividade é o também incrível Austin Kleon, autor de Roube como um Artista. Kleon nos lembra que a criatividade não se trata de criar algo do nada, mas de transformar o que já existe de forma única e significativa.

Em Roube como um Artista, Austin Kleon nos apresenta a delicadeza de um artista criativo ao mostrar que a criatividade não se trata de criar algo totalmente novo, mas sim de se inspirar no que já existe e transformá-lo em algo original. Já em Siga em Frente, o autor nos lembra que a criatividade não é um estado permanente, mas algo que precisa ser cultivado diariamente – especialmente em tempos difíceis. Ele destaca a importância de estabelecer uma rotina nesse processo, tratando a criatividade como um exercício constante.
Mas o que toda essa transformação de recursos disponíveis, a era da transformação digital e o próprio conceito de criatividade têm a ver com a ideia de voltar ao básico?
Pessoas
Voltar ao básico significa voltar a focar no relacionamento e na proximidade com as pessoas. Significa entender que nossas decisões, conquistas e a própria vida passam pela partilha de momentos e sentimentos com outros seres humanos, guiados pelo mesmo desejo de se conectar e construir juntos.
Um líder tem, sim, a autonomia e o poder de tomar decisões sozinho para um departamento ou até para toda uma organização. Mas será que ele seria tão assertivo quanto ao tomar decisões que passaram por uma construção conjunta, a quatro mãos?
Waldez Ludwig, já no final da década de 1990, refletia sobre os desafios na Gestão de Pessoas, destacando pontos que, surpreendentemente, permanecem tão relevantes em 2024 quanto naquela época. Ele apontava que o maior ativo das organizações não está nas máquinas ou nos processos, mas nas pessoas que constroem e sustentam esses sistemas.
Aqui na Commerciare Gestão em Saúde, acreditamos que as melhores empresas de saúde são aquelas que constroem seus processos com pessoas comprometidas, que contribuem todos os dias para essa jornada. Quando somos procurados para construir um planejamento estratégico, nosso primeiro direcionamento é sempre o mesmo: alinhar no processo de construção as pessoas mais estratégica do negócio.
Liderar sem ouvir as pessoas é imposição!
Mas será que é possível alcançar grandes resultados quando as pessoas não são ouvidas? Pense também na sua vida pessoal: você seria capaz de encontrar felicidade sem ter relações saudáveis com sua família, amigos e colegas de trabalho?
No fim, é a conexão com as pessoas que transforma um propósito em realidade.
Não abandone a teoria
Há um bom tempo, estamos sendo bombardeados por uma enxurrada de informações e até teorias conspiratórias baseadas no negacionismo. Afinal, as transformações digitais tornaram a internet um espaço onde todos podem falar sobre qualquer assunto. No entanto, nem sempre essas discussões são acompanhadas do conhecimento técnico e teórico necessário para argumentar de forma sólida sobre certos temas.
Por exemplo, quem não é profissional de saúde geralmente não possui informações e conhecimento técnico suficientes para defender ou discordar de tratamentos, diagnósticos e métodos de prevenção. Ainda assim, essas opiniões frequentemente ganham espaço, muitas vezes sem nenhum embasamento.
Outro debate recorrente nos dias de hoje é a desvalorização da faculdade. Muitos acreditam, com convicção, que a graduação não é mais necessária, com exceção de áreas do conhecimento altamente técnicas, como Medicina ou Engenharia. Baseando-se nessa visão, quem deseja trabalhar em áreas como Comunicação, Administração, Economia ou Negócios, por exemplo, poderia prescindir de anos de estudo e aprofundamento.

Será que aqueles que escolhem áreas não técnicas realmente não precisam passar pelo conhecimento teórico? Será que não é necessário estudar conceitos científicos e humanos como Filosofia, Psicologia e Sociologia? Esse tipo de conhecimento não agrega em nada na formação das pessoas como cidadãos preparados para o mundo?
E nas empresas, será que os problemas de gestão vêm de um excesso de conhecimento e práticas gerenciais modernas e complexas, ou estamos padecendo pela falta de conceitos básicos de administração geral e financeira?
Voltar ao básico significa, antes de tudo, voltar a estudar. Resgatar a teoria para compreender melhor a realidade atual e, a partir dela, encontrar soluções que possam transformar o futuro. Porque só com entendimento profundo conseguimos enxergar além do superficial e construir algo realmente significativo.
Mostre o seu trabalho

Em Mostre o Seu Trabalho, Austin Kleon nos ensina que compartilhar o processo criativo é tão importante quanto o trabalho final. Essa prática não só cria conexões, mas também fortalece sua reputação. Em resumo: precisamos aprender a mostrar o que fazemos.
Mas como mostrar? Segundo o autor:
- Seja um “amador generoso”: compartilhe o que você está aprendendo e inspire outras pessoas.
- Seja transparente sobre o processo: mostrar os bastidores cria autenticidade e atrai um público fiel.
- Conecte-se com sua “árvore genealógica criativa”: descubra quem o inspira e quem você inspira.
- Prefira consistência à perfeição: compartilhe pequenos avanços regularmente, sem esperar o momento “perfeito”.
Não tenha receio de mostrar seu trabalho e resultados para quem realmente importa. Evite guardar tudo para si ou temer a rejeição. Compartilhar é uma ponte poderosa que conecta sua criatividade ao mundo e pode inspirar outros a fazer o mesmo.
E o mais importante: NÃO TENHA MEDO DE CRIAR!
Busque referências nas ciências e na teoria, mas também encontre inspiração na arte, na natureza e nas coisas simples da vida.
Na Commerciare Gestão em Saúde, nos orgulhamos de ter como influência uma canção dos Beatles para nosso conceito inicial de negócio: uma consultoria que constrói com pessoas, sempre juntas no propósito de impulsionar o desenvolvimento organizacional.
Pare de complicar e volte para o método
Recentemente, fui fortemente questionado sobre o uso de Inteligência Artificial em um projeto que estava conduzindo com uma organização. Minha resposta foi simples: expliquei que minhas referências e ferramentas eram baseadas em publicações de mais de 20 anos atrás, oriundas de estudos de teóricos conceituados da gestão empresarial no mundo.
É claro que reconhecemos o impacto, a influência e a importância da IA na condução de diversas atividades, especialmente no mundo dos negócios. Ferramentas tecnológicas têm revolucionado processos e oferecido soluções que antes pareciam impossíveis.
Mas será que o verdadeiro problema de muitas organizações é mesmo a falta de tecnologia em seus processos e nas mãos dos seus líderes?
Tenho a impressão de que, de repente, parece que não enfrentamos mais problemas relacionados a relações interpessoais, alinhamento de times, definição de políticas internas ou à própria cultura organizacional entre sócios e proprietários. É como se tudo pudesse ser resolvido com a aplicação de novas tecnologias e ferramentas, enquanto questões fundamentais, como a capacitação de líderes e equipes, ficam em segundo plano.
A solução, muitas vezes, não está em uma ferramenta tecnológica, mas no resgate das bases das teorias modernas da administração, desenvolvidas ao longo do século XX. O que muitas organizações precisam é de líderes bem preparados, pessoas engajadas e a aplicação consistente de metodologias baseadas em teoria e prática. Sem isso, a tecnologia, por mais avançada que seja, se torna apenas um paliativo, incapaz de resolver os problemas estruturais e culturais que muitas empresas enfrentam.
Será que a famosa Teoria das Necessidades de Abraham Maslow deixou de ser uma realidade? E os Mapas Estratégicos de Kaplan e Norton não funcionam mais?
E agora?
Não estou aqui dizendo que você deve abandonar a tecnologia ou a inovação no mundo dos negócios. Muito pelo contrário. Reconhecemos a complexidade do ambiente organizacional e empresarial e sabemos que não existem fórmulas prontas, muito menos soluções mirabolantes, para lidar com essa realidade.

Mas será que faz tanto sentido complicar tanto assim?
Será que estamos realmente gerenciando nossos negócios com base em cálculos confiáveis, análises críticas eficientes e um foco claro em uma gestão compacta e eficaz? Ou será que estamos sendo arrastados pela sede de inovação, sempre no hype das tendências, enquanto esquecemos do básico?
O básico, afinal, é o que mantém uma empresa saudável:
- Gerar lucro consistentemente ou encerrar as atividades antes da falência.
- Manter uma gestão eficiente dos números da organização.
- Estruturar um processo comercial que realmente faça sentido e traga resultados.
- Saber ouvir o cliente e entender suas reais necessidades.
- Desenvolver um marketing que comunique de forma clara e eficaz com o público-alvo.
- Contar com líderes competentes, capazes de inspirar suas equipes, direcionar esforços e alcançar tanto os objetivos da empresa quanto o desenvolvimento pessoal de cada colaborador.
No final das contas, a verdadeira inovação não está apenas em buscar o novo, mas em garantir que as bases estejam sólidas e funcionando. Porque, sem o básico bem feito, nenhuma tecnologia ou tendência será capaz de sustentar o negócio no longo prazo.
O básico sempre será feito por pessoas!
