
Qual é o cenário e a conclusão para a saúde suplementar em 2024?
No Brasil, a saúde está diretamente ligada a questões econômicas e políticas, o que a torna complexa e desafiadora. Sempre vale ressaltar que os dados das operadoras de planos de saúde são publicados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), e a análise desses números realizadas pela equipe da Commerciare Gestão em Saúde permite vislumbrar diferentes cenários para 2025 e para os próximos anos.
Nos últimos tempos, o setor tem enfrentado variações no número de beneficiários, crises econômicas, impactos da pandemia iniciada em 2020, aumento do desemprego, inflação, flutuação cambial, dificuldades financeiras das operadoras de saúde e a gestão desafiadora do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar disso, segundo dados da ANS, 2024 apresentou resultados positivos no que diz respeito ao número total de usuários de planos de assistência médica e odontológica. Porém, surge a dúvida: esse quadro é realmente sustentável no curto, médio e longo prazo? Uma análise crítica exige critério e profundo conhecimento das particularidades do setor de saúde.
Em relação aos resultados financeiros, algumas fontes (como a UOL Economia, 2025) destacam aumento dos lucros das operadoras de planos de saúde. Entretanto, é evidente que os custos relacionados ao pagamento de exames, internações, cirurgias e tratamentos também crescem, muitas vezes em ritmo igual ou superior. Nesse cenário, relata-se um aumento na inadimplência das operadoras junto aos prestadores de serviços (hospitais, clínicas e laboratórios).
Paralelamente, outro ponto crítico é a defasagem nos modelos de remuneração adotados pelas operadoras. Embora haja contratos prevendo reajustes anuais para exames diagnósticos, procedimentos, cirurgias, honorários profissionais, materiais, medicamentos, OPME, diárias, taxas e gases, os prestadores afirmam que as negociações costumam esbarrar em índices que não refletem a realidade dos custos do setor.
A inflação médica no Brasil, por sua vez, costuma superar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), conforme diversos levantamentos (por exemplo, o Monitor Mercantil). Essa alta inflacionária pressiona ainda mais a sustentabilidade dos planos de saúde, que precisam equilibrar lucros, custos e qualidade de atendimento para garantir a continuidade dos serviços.
Este panorama evidencia a importância de uma análise cautelosa e fundamentada dos números da saúde suplementar em 2024, considerando tanto as perspectivas otimistas quanto as tensões crescentes entre operadoras, prestadores e beneficiários.
Evolução do setor e comparação dos números de 2023 e 2024
A seguir, apresentamos a evolução do setor de saúde suplementar, comparando os dados de 2024 com o fechamento de 2023, conforme informações divulgadas pela ANS em seu portal oficial (TABNET).
Assistência Médica
De acordo com os boletins trimestrais da ANS, 2024 encerrou com números recordes na assistência médica. Em 2023, o total de vidas cobertas por planos de saúde era de 51.347.519, número que já superava os registros de trimestres e anos anteriores.
No fechamento de 2024, esse total de beneficiários aumentou para 52.210.290, representando um crescimento de 2%. Tal resultado reforça a percepção de recordes no setor e sugere um incremento nos lucros das operadoras. Entretanto, é válido questionar se esse aumento de beneficiários reflete melhorias efetivas na qualidade e na sustentabilidade do sistema de saúde como um todo.

Assistência Odontológica
Os planos odontológicos se destacam de forma particular dentro do cenário da saúde suplementar. Em 2023, o setor atingiu o recorde de 32.401.323 beneficiários. Já em 2024, ocorreu um novo salto, chegando a 34.466.532 vidas, o que representa um crescimento de 6% em relação ao ano anterior.
Observando o histórico de expansão acima de 5% nos últimos anos, não há dúvida de que a assistência odontológica continuará avançando. É possível, inclusive, que em poucos anos o número de beneficiários de planos odontológicos supere o da assistência médica. Resta saber se essa projeção de fato se concretizará no médio e longo prazos.

E agora?
A realidade que emerge de todos esses dados é a de uma saúde suplementar cada vez mais complexa e marcada por incertezas. A elevação constante dos custos, a ocorrência de fraudes relacionadas aos planos de saúde, a inflação, o aumento da sinistralidade, a insegurança nacional quanto à qualidade da formação médica, a descentralização das informações de saúde e a ausência de mudanças efetivas no modelo assistencial brasileiro são fatores que impactam todo o ecossistema de saúde.
Nesse contexto, o maior prejudicado tende a ser o paciente, considerado o elo mais fraco da corrente. Sem um controle mais eficaz e sem políticas estruturais que promovam equilíbrio entre operadoras, prestadores e beneficiários, os desafios enfrentados em 2024 podem se agravar nos próximos anos, exigindo ajustes e inovações urgentes para a sustentabilidade do setor.
Desafios dos prestadores e das operadoras
Os prestadores de serviços, por exemplo, sofrem significativamente com a inadimplência ou o atraso no pagamento por procedimentos já realizados, além de terem de arcar com custos imediatos de insumos e remuneração de profissionais. Em muitos casos, esses pagamentos, atrasados por meses ou até anos, não são corrigidos de forma adequada pela inflação, o que gera perdas financeiras expressivas. Essa situação agrava a delicada sustentabilidade das empresas prestadoras, comprometendo sua capacidade de manter a qualidade do atendimento ao paciente e de investir em melhorias e inovações.
Por outro lado, as operadoras também enfrentam seus próprios prejuízos, especialmente relacionados às fraudes, que se espalham por todo o Brasil. Esse cenário encarece de forma significativa tanto o sistema de saúde privado quanto o sistema público, onerando ainda mais o setor e dificultando a oferta de serviços de qualidade.
Perspectivas e possíveis caminhos
Diante desse quadro, surge a pergunta: quais são as saídas? Essa questão, que poderia valer “um bilhão de dólares”, demanda soluções estruturais. Ferramentas de gestão e tecnologias têm sido apontadas como grandes aliadas: permitem gerenciar custos, analisar dados gerados mensalmente pelo sistema, criar novos formatos de assistência e acompanhar mais de perto a saúde dos beneficiários. Além disso, novos produtos e serviços surgem a todo momento, sejam eles vindos tanto de grandes empresas da saúde quanto de startups em polos de inovação.
O fato é que não podemos mais fugir dessa realidade. Iniciativas conjuntas entre governo, operadoras, prestadores de serviços e a própria sociedade serão indispensáveis para garantir a perenidade e a qualidade do sistema de saúde suplementar no Brasil.
