
O setor de saúde, historicamente conhecido por sua complexidade, regulamentos rigorosos e os desafios para inovação no curto prazo, tem chamado a atenção das big techs, dos fundos de investimento e das gigantes do mercado, no geral.
Empresas como Google, Apple, Amazon e Meta vêm desenvolvendo soluções que buscam transformar o acesso e o consumo de serviços de saúde em escala global. Recentemente, o Spotify, por meio da healthtech Neko Health, também entrou nesse mercado com a proposta de democratizar o diagnóstico preventivo.
Aqui iremos acompanhar mais sobre as gigantes investindo em saúde e conhecer mais de todas essas iniciativas exploradas por essas empresas destacando suas contribuições, desafios e o impacto esperado no sistema global de saúde e acesso a saúde de qualidade para todos.
As promessas da revolução industrial 4.0
Quem não se lembra do vídeo abaixo?
Quem não se encantou com o seu conteúdo e com todas as premissas da revolução industrial 4.0? Será que em 2025, todas aquelas promessas e expectativas se cumpriram?
O que podemos dizer, seguramente, é que a tecnologia vem evoluindo de forma considerável e sim, a saúde vem se beneficiando de todas essas tecnologias. Há anos, as big techs vêm mostrando suas intenções de impactar positivamente os cuidados com a saúde.
Além das big techs, outras gigantes do mercado também têm investido fortemente na saúde, como é o caso do Walmart nos Estados Unidos e de empresas como a Vivo no Brasil. Esses movimentos mostram que a disrupção não está limitada ao universo tecnológico tradicional, mas se estende ao varejo e telecomunicações.
O caso Neko Health: o Spotify na Saúde preventiva
A Neko Health, cofundada por Daniel Ek, criador do Spotify, surge com uma proposta clara: oferecer diagnóstico preventivo acessível e escalável por meio de tecnologia de escaneamento corporal e inteligência artificial (IA). A empresa já captou mais de US$ 260 milhões e apresenta como principal inovação o uso de scanners 360º capazes de detectar alterações corporais precoces, como câncer de pele e outras anomalias.
Essa tecnologia promete trazer ao mercado de saúde diferenciais como:
- Escaneamento corporal completo: Uma abordagem 360º que coleta dados de pele, massa corporal e outros indicadores visuais.
- IA para diagnóstico rápido: O processamento automático permite gerar relatórios personalizados rapidamente.
- Prevenção centrada no paciente: Em vez de atuar na cura, o foco é na prevenção e no diagnóstico precoce.
O modelo proposto pela Neko Health busca desburocratizar o acesso a exames preventivos, algo ainda elitizado em muitos países. Sua abordagem é escalável, o que pode gerar redução de custos no longo prazo para os sistemas de saúde.
Termos como “democratizar o acesso” ou “tornar o acesso à saúde mais acessível” não são estranhos ao mercado brasileiro. Afinal, o modelo de negócios baseado em “saúde popular” se consolidou no Brasil e facilitou o acesso da população a consultas e exames diagnósticos, em um país marcado por uma realidade desafiadora:
- Apenas 25% da população possui acesso a planos de saúde privados;
- O Sistema Único de Saúde (SUS) enfrenta dificuldades para oferecer suporte ao restante da população, sendo que muitos cidadãos buscam alternativas por meio do próprio financiamento privado e do acesso facilitado proporcionado pela “saúde popular”.
A Neko Health, portanto, levanta uma questão importante: como esse tipo de inovação pode ser adaptado para realidades complexas, como a brasileira, onde modelos híbridos entre público e privado já vêm ganhando força?
As Big Techs e as suas iniciativas
Quais são as principais iniciativas das Big Techs para o cenário da saúde?
Google (Alphabet)
A Alphabet tem investido em múltiplas frentes por meio de suas subsidiárias Verily e DeepMind:
- Verily: a organização de pesquisa da Alphabet Inc. dedicada ao estudo das ciências biológicas;
- DeepMind: Foco em IA aplicada à saúde, com projetos como diagnóstico de doenças oculares.
A Alphabet também busca otimizar a análise de grandes volumes de dados médicos para oferecer recomendações mais precisas aos profissionais de saúde. Além é claro de aplicativos que atuam no monitoramento de atividades físicas, como é o caso do Google FIt.
Apple
A Apple integrou dispositivos como o Apple Watch ao cotidiano de milhões de usuários, oferecendo monitoramento de saúde em tempo real.
- HealthKit, CareKit e ResearchKit: Ferramentas de desenvolvimento que possibilitam aplicações para pesquisas e cuidados.
- Projeto Quartz: Uma IA focada em monitorar e sugerir intervenções de saúde emocional.
Amazon
A Amazon tem se destacado por seus movimentos agressivos no setor:
- Amazon Pharmacy: Uma farmácia digital que oferece medicamentos com entrega rápida.
- Amazon Clinic: Plataforma de telemedicina para consultas rápidas.
- Alexa Health: Expansão do assistente de voz para funções de saúde, como lembretes de medicamentos.

Meta (Facebook)
A Meta atua principalmente no suporte a comunidades de pacientes e na disseminação de informações de saúde por meio de suas plataformas.
- Grupos de Apoio: Espaços dedicados para troca de experiências entre pacientes.
- Ensaios Clínicos: Parcerias com instituições de saúde para recrutamento de participantes.
O caso Walmart e outras gigantes no setor de Saúde
Embora o Walmart não seja uma big tech, sua atuação no setor de saúde merece destaque. Recentemente, o Walmart anunciou a expansão de seu serviço de entrega de medicamentos prescritos, com entregas em até 30 minutos. Esse movimento está alinhado com a tendência de integração entre logística e saúde, buscando competir diretamente com players como a Amazon.
Além disso, a empresa lançou, nos últimos anos, as iniciativas Walmart Health e Walmart Virtual Care, com o objetivo de oferecer serviços de saúde física e virtual. No entanto, em 2024, essas iniciativas foram descontinuadas devido aos altos custos operacionais e ao desafio de alcançar a sustentabilidade financeira no longo prazo.
No Brasil, outras grandes empresas também começaram a explorar o mercado de saúde. Um exemplo relevante é a Vivo, que, por meio de um investimento na Conexa Saúde, está expandindo seus serviços de telemedicina (Exame). Esse movimento reflete a convergência de setores que, antes, não estavam diretamente envolvidos na área da saúde, mas agora veem nesse setor uma oportunidade de expansão estratégica e criação de valor.
E os desafios e as oportunidades?
Em qualquer mercado, seja na saúde ou na indústria, a entrada de novas tecnologias cria incógnitas sob diferentes perspectivas: científica, técnica e regulatória. Na saúde, esse impacto é ainda mais sensível, pois não se pode simplesmente aplicar qualquer inovação sem antes compreender profundamente o cenário e os potenciais riscos.
Assim, ao lado das promessas de transformação, surgem sempre desafios e oportunidades.
Desafios
- Regulação e conformidade: Cada país possui regulações específicas para o setor de saúde, o que pode atrasar a implementação de tecnologias inovadoras. Processos de aprovação regulatória costumam ser longos e criteriosos, visando garantir a segurança dos pacientes e a eficácia dos métodos aplicados.
- Privacidade de dados: O manejo seguro de dados sensíveis é um dos maiores desafios da era digital. No setor de saúde, onde os dados pessoais envolvem informações médicas críticas, garantir a confidencialidade é essencial para evitar escândalos, vazamentos e perda de confiança dos usuários.
E as empresas que estão construindo grandes bancos de dados?
O que será feito com a imensidão de dados sobre saúde, hábitos, comportamentos online, práticas de exercícios e outras informações relacionadas ao bem-estar?
Oportunidades
- Prevenção ao invés de tratamento: As tecnologias emergentes, como IA, wearables e telemedicina, têm permitido que o setor de saúde se mova em direção a um modelo preventivo, no qual diagnósticos precoces e monitoramento contínuo evitam o avanço de doenças. Esse modelo tem o potencial de reduzir custos no longo prazo e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
- Integração de sistemas: A convergência entre tecnologia, logística e dados cria oportunidades de otimizar os sistemas de saúde globais. Por meio de plataformas integradas, é possível conectar hospitais, farmácias, clínicas e pacientes de forma mais eficiente, garantindo que informações estejam acessíveis quando necessário e facilitando o planejamento de políticas públicas e privadas.
O futuro?
A entrada de big techs como Google, Apple, Amazon e Meta no setor de saúde está mudando a dinâmica do mercado, forçando sistemas tradicionais a adotarem inovações tecnológicas.O caso da Neko Health, fundado por um nome de peso da indústria musical, exemplifica como players de diferentes setores podem oferecer soluções disruptivas.
Além disso, o envolvimento de empresas de outros setores, como o Walmart e a Vivo, reforça que a saúde tornou-se um campo de investimento atrativo não apenas para empresas de tecnologia, mas também para varejo e telecomunicações.
Embora desafios regulatórios e relacionados à privacidade ainda existam, as oportunidades de criar um sistema de saúde mais acessível e eficiente são claras. Empresas que conseguirem equilibrar inovação com responsabilidade e segurança terão uma vantagem competitiva no mercado global de saúde.
